O diagnóstico de câncer é sempre um momento difícil. Quando ocorre com alguém próximo de nós (familiar, amigo ou vizinho), a situação é ainda mais delicada. Mas é importante entender que os sentimentos de “não saber como lidar” e “não saber o que dizer” são comuns. Para ajudar, a psicóloga Cibele de Bem Alves Nemecek, do Espaço Viver Bem e da Clínica de Oncologia da Unimed, dá algumas dicas:
“Descobrir que um parente ou amigo está com um câncer e não saber como lidar é perfeitamente normal. A pessoa também está descobrindo como ela própria deve lidar com a descoberta da doença. Portanto, é um aprendizado para ambas as partes. Cada um reage de um jeito, não existe fórmula mágica”, afirma a psicóloga.
Em muitos casos, é comum o afastamento após o diagnóstico. No entanto, é essencial que familiares e amigos estejam por perto para apoiar. “A pessoa que descobriu a doença precisa de espaço. Deixe que ela escolha o melhor momento para desabafar. Apenas esteja lá, disponível. Tente não tocar no assunto e fale de outras coisas. Quando ela quiser e sentir-se à vontade, ela vai falar”, orienta Cibele.
Para a psicóloga, ouvir é a regra de ouro. “Lembre-se que você pode apenas escutar e guardar as suas perguntas para outro momento. Esteja presente mesmo que não diga nada. Evite falar de casos em que a pessoa sobreviveu ou faleceu, pois cada caso tem as suas particularidades”, lembra a profissional.
É importante também evitar frases como “tudo vai correr bem” se você não sabe como vai ser. “A pessoa precisa saber que pode desabafar e ser verdadeira com você, por isso, seja positivo mas não dê falsas esperanças. O essencial nesse momento é a pessoa não se sentir sozinha.”
Altos e baixos
O caminho a ser percorrido durante o tratamento pode proporcionar altos e baixos, que se refletem no humor e nas perspectivas de cura do paciente. “Se a pessoa tiver momentos de agressividade, não leve para o lado pessoal, seja compreensivo”, destaca a psicóloga Cibele, que complementa: “faça companhia nas sessões de quimioterapia. Pelo menos leve e vá buscar ou reveze com outro familiar e amigo. Nesta fase é muito importante nos sentirmos queridos e amados. O amor cura o coração e alma, é a base de tudo”, reflete.
Cabe ressaltar que as pessoas que enfrentam um câncer não querem conversar apenas sobre a doença. Muitas vezes, elas desejam falar sobre assuntos do cotidiano que tragam conforto e bem-estar como, por exemplo, as vitórias do time de futebol ou o filme que acabou de ser lançado. “Guarde a conversa sobre o câncer para a próxima consulta médica, a menos que a pessoa queira falar sobre a doença”, diz a psicóloga.
“Em muitos casos, o paciente com câncer sabe que você não compreende de fato o que ele está passando, assim como não espera conselhos que não foram pedidos, muito menos uma enxurrada de mensagens motivacionais”, pontua Cibele. Por isso, lembre-se de ter em mente a regra de ouro: ouvir. “Ser essa pessoa é mais importante do que você imagina.”
Apoio na religião
O diagnóstico do câncer ou a simples possibilidade de sua confirmação pode ser percebido, muitas vezes, como um sinal de morte, que rompe o equilíbrio individual e familiar. “É tão forte a associação da morte ao diagnóstico de câncer que, mesmo continuando a viver, essa marca antecipada permanece para sempre nas pessoas que um dia se encontraram nessa situação”, explica Cibele.
Para lidar com isso, muitos buscam na espiritualidade ou religiosidade o apoio necessário. “A espiritualidade é a busca por si próprio, consigo e com os que estão ao redor, com uma expressão de vida ou com Deus. Ela ajuda as pessoas a descobrir um propósito na vida, a compreender as dificuldades que se apresentam e desenvolver suas relações com Deus ou com uma força superior”, ressalta.
A psicóloga argumenta que essa busca é importante, pois auxilia no enfrentamento dessa fase delicada da vida. “Alguns buscam respostas em seu interior, outros encontram esse apoio espiritual externamente, por meio da ajuda ao próximo ou pela ajuda de alguma religião. Nesse contexto, a espiritualidade é entendida como um sistema de crenças que transmite força e significado aos eventos da vida. E esse suporte possibilita que as pessoas tenham atitudes positivas, melhorando a sua qualidade de vida”, completa Cibele.
Portanto, lembre-se que ouvir mais do que falar é a regra de ouro. Faça com que a pessoa esteja à vontade e só converse sobre aquilo que ela se sinta confortável para falar. Se você ainda tem dúvidas e quer apoio, busque o auxílio de um psicólogo. Ele é o profissional indicado para lhe orientar.
É gratuito e saudável.