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Saúde emocional da juventude LGBTQIA+: precisamos falar sobre o tema

Considerar as questões sociais, econômicas e comportamentais é o primeiro passo para a promoção do bem-estar psíquico desses jovens

01 de junho de 2021

Temas como a saúde emocional da população em geral, e principalmente das minorias, tem despertado o debate em diferentes contextos e atingido proporções mundiais. Instituições de pesquisa globais mobilizam-se para entender, por exemplo, a relação entre essa temática e a vulnerabilidade social.

No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) fez uma análise de como os efeitos da pandemia interferem na saúde mental na juventude LGBTQIA+. De acordo com o órgão, houve um aumento de 16% de agravo psicológico desse grupo.

Esses dados servem para nos alertar a respeito da importância de fomentar o debate em relação às causas desse cenário e que medidas devem ser tomadas para garantir a integridade física, social, econômica e mental desse grupo.

Panorama da vulnerabilidade LGBTQIA+

Junho é o mês da visibilidade LGBTQIA+. Nesse período, representantes da comunidade e seus respectivos lugares de fala ganham destaque nos principais canais de comunicação, redes sociais e até mesmo em ações publicitárias.

Apesar desse espaço ser importante para reforçar a necessidade de respeito, precisamos trazer à superfície dados que merecem atenção, não apenas dos profissionais da saúde, mas da sociedade como um todo.

De acordo com o Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+, no Brasil, em 2020:

  • Foram registrados 237 casos de mortes violentas de pessoas da comunidade;
  • Foram 161 travestis e mulheres transsexuais, 51 gays, 10 lésbicas, 3 homens transsexuais e 3 bissexuais;
  • Ainda foi contabilizada a morte de 2 homens heterossexuais que, na ocasião, foram confundidos como homossexuais;
  • Dessas mortes, 13 foram suicídios;
  • A maioria das vítimas (32,91%) possui faixa-etária entre 15 e 30 anos;
  • 54% das vítimas se autodeclaram pretas e pardas;
  • 44,6% das vítimas atuavam como profissionais do sexo;
  • Tiros com arma de fogo representa 42,30% da causa da morte;
  • 60,82% das mortes aconteceram em espaços públicos;
  • O período noturno representa 72,61% das mortes.

Apesar de os dados serem menores em comparação aos de 2019, vale dizer que ainda são preocupantes. Afinal, essa redução está relacionada, principalmente, às medidas de distanciamento social e isolamento oriundos da pandemia.

Principais riscos à saúde mental na juventude LGBTQIA+

Uma série de fatores interfere no detrimento da saúde mental na juventude LGBTQIA+. A realidade compartilhada no tópico anterior já é suficiente para o desencadeamento de estresse agudo, depressão, ansiedade, entre outras doenças.

Além deles, é importante enfatizar o contexto de vulnerabilidade econômica e social ao qual a comunidade pode estar inserida. Baixa escolaridade, desemprego, violência e falta de acesso à saúde pública são alguns exemplos desse cenário.

Isso sem contar na ausência ou redução de redes de apoio, sobretudo neste período de instabilidade econômica por conta da Covid-19. De acordo com a Fiocruz, em 2021, 55,1% das pessoas relataram piora na saúde mental em comparação com o ano anterior.

A instituição ainda revelou que 55% foram diagnosticadas com depressão severa, número que representa um aumento de 8% em relação a 2020. Por fim, 45,3% apresentaram condições clínicas relacionadas à ansiedade. 

Vale dizer que, segundo a Fiocruz, a piora da saúde mental na juventude LGBTQIA+ se deve à distância de relações afetivas com amigos ou familiares e à escassez profissional, que culmina na ausência de renda.

Os dois cenários podem implicar em consequências ainda maiores, sobretudo no que diz respeito ao acesso aos itens básicos de sobrevivência, como alimentação e saúde.

A Fundação Oswaldo Cruz revelou que a insegurança alimentar atinge 56% das pessoas transsexuais. A instituição identificou que 59,4% das pessoas LGBTQIA+ estão desempregadas. 

Responsabilidade social

As pesquisas mencionadas neste artigo são importantes para que todos nós possamos compreender a urgência da expansão do debate para mudar a realidade e os riscos  dos fatores apresentados na saúde mental na juventude LGBTQIA+.

Promoção do acesso à saúde, educação e mercado de trabalho são algumas das medidas que devem ser tomadas pelos setores público e privado. No âmbito da saúde, é importante que os profissionais considerem os seguintes elementos:

  • Reconhecimento e respeito ao nome social dos pacientes;
  • Respeito à autodeclaração de gênero. 

Isso deve estar presente, desde o primeiro contato da pessoa LGBTQIA+ com o serviço, desde o momento de agendamento de consultas. É fundamental que sua existência seja validada em fichas, sistemas e, principalmente nas relações interpessoais.

Também é necessário reconhecer as particularidades da saúde dessa comunidade. Isso implica em avaliar os fatores de risco e vulnerabilidade relacionados à depressão, planejamento suicida, entre outros problemas.